segunda-feira, 4 de abril de 2011

pratos

Porque o homem é basicamente falso, ou pelo menos quase tudo o que vive de si mesmo é falso, há um prazer particular na ideia da auto-desconstrução e ate da auto-destruição. Quem está deveras empenhado e construir um si proprio nunca vai entender, enquanto nessa ideia permanecer, o que vive alguem vivendo sua desconstrução, sua destruição e a arte zem do FODA-SE.
Ninguem sabe ao certo o que é o homem em materia de algo essencial, algo verdadeiro, algo genuíno. Mas é certo que, a parte a possível existencia de algo assim, o homem é, ou vive como, um amontoado de condicionamentos, defesas, desejos não integrados e portanto neuróticos, fantasias infantis e mentiras, muitas mentiras. Falsidade é, depois da morte, a única coisa certa no mundo. Todos podem discutir se o amor existe ou não, se a liberdade é um mito ou não. A falsidade é superior a essa discussão. A falsidade é fato.
O homem vive como um daqueles equilibristas de pratos sobre varas, se afobando constantemente para mante-los todos em movimentos e cada vez mais, em mais movimentos e maiores altitudes. É assim que se mostra nosso poder, nosso orgulho, nossas bandeiras. O sucesso é um prato girando mais rapido e mais alto, por mais tempo. Ou um maior numero de pratos.
Desconstrução é deixar os pratos cairem para ver o que sobra. Auto-destruição é mais radical: chutar algumas varetas antecipando a queda dos pratos e ainda poder ver alguns se espatifando no chão. A revolta é o grito desesperado da liberdade e quem pode culpar? Arremeçe seus pratos quem quiser, quebre suas varetas quem puder, vale tudo na busca de algo de verdade. Eu não o culpo. O que sobrar, o que permanecer em pé quanto todo o zumbido e estilhaços cessar, deve ser mais verdade. Pelo menos essa é a esperança daqueles que não querem mais ter esperança. Pelo menos não a esperança em mais pratos, novos pratos, pratos políticos, teóricos, pratos budistas, pratos xintoistas, pratos socialistas, pratos de auto ajuda e blá-blá-blá... apenas mais pratos.
Não é um caminho de esperança, é um caminho de rendição. A esperança foi o ultimo prato frustrado que ainda que tenha girado, alto e veloz, não tirou o gosto de casca, de ranço, de chiclete velho que a vida prática tem, que a conquista no mundo dos pratos traz. Velho, mecanico, mais do mesmo, borracha seca. Não é um caminho a ser vendido ou defendido, a gente não sabe se vai dar certo. É a unica opção de quem não quer mais pão seco com cara de disneylandia, servido pelo novo dalai lama, imitando o sorrizo da xuxa sob uma chuva de confetes, ainda que brilhantes e exibidos em horario nobre.

Um comentário:

  1. Gostei do texto... mesmo que não exatamente da mesma forma, me lembrou algo que eu escrevi há alguns anos atrás...
    Eu ainda não evoluí para a parte do "não querem mais ter esperanças". Minha cabeça está cheia de pensamentos e crenças sólidas e concretas... acho que tô precisando de uma marreta! rsrs

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